segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Mus(eu)

imagine um louvre inteiro

só sobre você

com exposições permanentes

e outras itinerantes


no fundo

somos um museu desorganizado

de nós mesmos


no meu caso um acervo 

de 41 anos sem curadoria

um labirinto de memórias bagunçadas

de um museu abandonado sem querer


ramificações me conduzem 

por galerias de momentos 

o tempo se mistura

anos 80, 90, ontem

onde minha cabeça estava?

fragmentos interrompidos

esculturas inacabadas

salas e mais salas 

quadros na parede

fotografias, murais, desenhos

cheiros, músicas

pânico!

olho para os lados

em busca de


SAÍDA DE EMERGÊNCIA

todo museu que se preze

tem que ter um fuga

a porta se abre

e um divã

vivi? 

minha psicanalista

a minha espera

cinquenta minutos depois

e mais questões surgem

ela encerra com um clichê

"nos vemos na próxima quinta?"


mais calmo ou não

volto para o museu

retorno ao mergulho para dentro de mim


Escadas rolantes no museu?

saí do louvre e entrei no pompidou

Minha vida ficou contemporãnea

Retratada nos salões interativos

google fotos na parede

revelam vídeos, stories, 

bumerangues

Instalações interativas

lembranças em realidade aumentada 

diminuída, realidade não mais real

realidade sentida

basta o acaso de uma música

para acordar uma memória

converso com o spotify e o questiono

" por que você escolheu essa?"


caleidoscópio

versões simultâneas, múltiplas, invertidas

perspectivas por todo lado

tropeço em lembranças


museu de uma vida inteira

museu de uma vida só

frequentado por um único visitante

um observador de si mesmo

reflete sobre o quão louco

e absurdo é estar aqui.


com essa reflexão vou parar numa lojinha?

tudo é sobre mim?

esses museus sempre acabam em lojas

são souvenirs da minha vida

minha fita k7 preferida, uma réplica do meu walkman

uma miniatura da beliche vermelha que eu eu maria dormimos

meus livros de poemas

chaveirinhos, fotos e vídeos dos personagens da minha vida 

lápis com frases, apelidos que só fazem sentido para mim

desenhos? quem vai querer comprar esses desenhos?

quem vai querer comprar esses coisas?

Eu, talvez!









sexta-feira, 24 de novembro de 2023

blackfriday!

Meu coração
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De cashback


domingo, 12 de novembro de 2023

Porre de mim mesmo

completamente bêbado

nessa minha realidade sóbria

tão sóbria que é um porre


porre de alegria

de vinho, cachaça, cerveja,

celular, camisinha, porre de transa 


embriagado nessa conversa

embarco no delírio coletivo existencial

onde queimo neurônios, bagulhos, empadões, tabacos,

queimo o filme


mergulho numa deliciosa larica

e de repente

me vejo passando brigadeiro

numa torrada bauducco 


adormecer é uma onda

que me leva para longe

um infinito de possibilidades

de cores, sons e cheiros


já o despertar

é entender

que a realidade

é uma viagem

louca, múltipla

e simultânea.

uma realidade de horários

onde o tempo passa

e eu cambaleando

tento acompanhar

as urgências


olhando para o céu escuro

uma tontura súbita me invade

o dia passou. não percebi

estou completamente embriagado nas responsabilidades


embriagado no amor 

na saudade, na dor

na presença do passado

e na projeção do futuro

o presente balança, tropeça

se desequilibra

mas não cai



abro um vinho

coloco uma música

e a viagem prossegue aqui

 numa onda sonora

que acessa sentimentos

trancados numa gaveta.


o bêbado dentro de mim 

vira desenho animado

dança,

fala alto, abraça.

é inconveniente

não quer ir embora

de mim mesmo.


os olhos se abrem

tudo gira

cabeça grita

ressaca real

aspirina

água

porre de dipirona


porre de cafeína, porre de açúcar

as dosagens se misturam

num grande coquetel

o desconforto passa

e uma onda enorme

me pega desprevenido

caixote!

levanto

todo sujo

água, sal, sol, areia

Completamente chapado de maresia.


é tanto trocadilho

que me vem um enjoo

não poderia ser diferente

encerro esse poema

vomitando palavras ambíguas


Saideira! Saideira!

Garçon! Mais um chopp!

Esse poema é como um bêbado

Inimigo do fim, não quer ir embora


Bota um choro nesse copo!

Vamos brindar pela décima vez

Um brinde a loucura do normal!


















terça-feira, 15 de agosto de 2023

inverno aquece a minha solidão

terça-feira, 18 de julho de 2023

instagram: fim dos tempos

no jardim, o cachorro corre há 9 horas atrás
toco na tela e o tempo avança
agora a mesa está posta
Taça de vinho tinto, risoto instagramável
arrasto o dedo para esquerda
outro perfil
bianca foi num chá revelação
foto pousada com muitas amigas sorrindo
no vídeo seguinte, sobe uma fumaça rosa. 
muitas palmas, assobios e gritinhos de euforia.
Confesso que tenho preguiça dessa presepada
passo para o próximo stories e
p r o p a g a n d a
propaganda de toalhas?
toalhas que dizem serem as mesmas dos hotéis de luxo
acho que o meu algoritmo enlouqueceu!
passo!
ela em frente ao espelho
aponta o celular e faz poses sensuais
pulo esse stories e
vou parar em um por do sol em capri
água transparente, barquinhos, gruta
admiro por 5 segundos
até que outro perfil invade a minha tela
ih, que legal! a rita foi no show do caetano
p r o p a g a n d a
barbie! Ingressos a venda no cinemark
arrasto para esquerda e
outra propaganda
inacreditável, 2 seguidas
o novo sanduiche de catupiry do outback
hum. não obrigado!

avanço para o próximo storys
ary fontoura fantasiado de barbie
impressionante, o instagram só fala  da barbie
no próximo stories
uma adulta faz dancinhas
dublando e gesticulando, no estilo tiktok
se achando engraçada
mas não é.
passo para o lado com os dedos e
estou numa live
a pessoa começa pedindo desculpas
por estar sumida daqui
afinal, quem é essa pessoa? Eu sigo ela?
começo a me atrapalhar mentalmente
pulo mais esse stories e vou parar num
tutorial de maquiagem
ela fala sozinha enquanto se maqueia
passo o stories e
P r o p a g a n d a
Burger king lançou o bk barbie, sanduiche com algum aromatizante rosa. Bizarro!
Pulo esses stories e
encontro uma foto do meu sobrinho
com um sorriso imenso
é a coisa mais fofa que vi hoje
também dou um sorriso
e no próximo stories descubro que
o antonio virou corretor de imóveis
que engraçado, ele de terno
apresentando um empreendimento
outro dia tava de chinelo no banco
fumando maconha na praça
p r o p a g a n d a
que? não é possível! essa propaganda não faz sentido!
capivara de pelúcia?!  estão vendendo uma capivara de pelúcia
e o texto: 
" agora você pode ter uma capivara na sua casa"
por que eu ia querer uma capivara de pelucia?
perplexo, pulo esse stories e
ih, não é o rodrigo? onde ele tá?
fazendo uma self num estádio de futebol
no próximo stories descubro que é la bombonera
acompanho a viagem dele
hum, crepe de dulce de leche!
dança tango na rua, caminito, casacos, passeio na recoleta, palermo
tudo no mesmo dia.

outro perfil invade meu instagram.
em volta de um balde de champanhe
gente, não é a mãe da amiguinha da julia?
ela e as amigas dançam  vulgarmente e cantam na balada,
uma música famosa que nunca ouvi falar
passo story e
ih, chris! quanto tempo não te vejo!
ai meu deus é uma live, e ela tá falando de psicanálise
meu deus, só tem três pessoas!
não posso sair dessa live, ia ser muito deselegante
permaneço aqui, é interessante, é chato, é interessante, fica chato de novo
a minha mente corre mas sigo aqui
deixo a live rolando e vou pegar uma água
assisto até o fim, enquanto respondo uns e-mails
e no próximo stories, me encanto.
nossa como a patrícia é linda! flutuo com sua beleza
mas sou interrompido, meu telefone toca!
"gostaria de falar com o senhor luis fernando lacerda de menezes za za (ela engasga e conclui) zapir?" sim, sou eu. aqui é evelyn da net, precisamos retirar o decolder que não está sendo usado!"
do que você está falando?

volto para o instagram e já caio num
merchan de marmita de uma influenciadora
broto de feijão, mandioca e pepino, que sem graça!
pulo mais um stories e
o joão também foi no show do caetano
será que o joão e rita se conhecem? acho que não
e no próximo stories uma surpresa:
filha?  Calma, me deparo com a minha filha
que dança é essa?  FILHA!
sim, minha filha fazendo uma dancinha
dou uma risada e me divirto com a fofura
outro stories entra sozinho e
"parabéns pra você,  nessa data querida"
alguém fez aniversário
e uma prima minha registrou o momento
pessoas marcadas que não conheço,
peraí, aquele ali não é o gabriel, irmão da Laura?
é ele mesmo que loucura!
self da festa com o aniversariante
p r o p a g a n d a
propaganda de óculos e olha como o cara fala:
"família, são 2 óculos por 149. Frete grátis!"
família? Que abordagem é essa? 
passo os stories e
mais uma self no espelho do elevador
a ex bbb exibe seu cinto da gucci e a bolsa louis vitton
toco na tela e lá está ela  toda animada, como se estivesse no oscar, mas na verdade, era a  pré-estréia de barbie
e no próximo stories uma pessoa chamada Tereza fazendo pilates.
quem é Tereza?
antes que pudesse refletir sobre quem é Tereza
uma propaganda invade a minha tela
propaganda de dilatador nasal
e a foto do dono da chilli beans com as mãos no nariz. bizarro! e o texto:
"de adeus ao ronco"
socorro! não quero comprar isso! mas como eles sabem que eu ronco as vezes?
o próximo stories é maravilhoso
uma influenciadora provando o bk da barbie
música da acqua no fundo barbie gir
pelas caretas ela não gostou, na sequência ela cometou:" na moral, ta muito ruim."


os stories não contam histórias
eles passam aleatoriamente
sobre nossas vidas
embaralhando a percepção do real
enquanto preenchem nossas almas
com comportamentos hidrogenados
artificiais e falsamente atraentes,
uma espécie de nutella digital

vazios recortes de vidas sem vidas
tentando mostrar uma vida sem vida para outras vidas sem vidas

gente que horror esse instagram
afinal, o que estou fazendo aqui?
quem é Tereza?

todo mundo mostra
um pedaço de mentira
de si mesmo

vaidade
a
i

i
d
a
d
mental  de um ser que regridiu
que aguarda likes que não chegam
nessa montanha de informação
sem informação
desinformamos
enquanto o instagram aprisiona nossas
m
e
n
t
e
viciadas igual fumantes, no desespero do próximo stories, cigarros, ou likes.

antes que me autodiagnosticasse com
alzheimer digital, descobri que
tereza é aluna do meu personal
que havia repostado o conteúdo dela.

ah, para finalizar, olha a imagem abaixo












sexta-feira, 9 de junho de 2023

Parque da Várzea

de um dia para o outro

as folhas ficaram vermelhas

caminhar sobre elas

foi como receber

uma transfusão do outono


quarta-feira, 7 de junho de 2023

no fundo

somos um bando 
de streamers
das nossas próprias vidas
transmitindo
vários canais
de nós mesmos

na transformação do ao vivo
o reality show de existir
se aprisiona em lives sem lifes
o play é contínuo e o que acontece
aconteceu

a vida não tem rewind,
não se pode voltar, nem acelerar
não existe controle remoto
infelizmente. 

porque somos streamers reativos a streamers
streamers ambulantes
streamers vivos

até que nossa transmissão
se apague 
a live continua.



quarta-feira, 31 de maio de 2023

Garoto interrompido

em plena construção,

de um texto embrionário,

sofri pela interrupção sucessiva:

tocou o interfone,

chegou o mercado!

vestindo pijamas

procuro um pé do chinelo

achei! do outro lado da sala.


portas se abrem

me deparei com a minha imagem

no espelho do elevador

portas se fecham

convivo com ela

até que portas se abrem novamente.



acomodei as sacolas na pia

e voltei para o texto

até que, mais um ruído.

num barulho contínuo

a máquina de lavar

rodopia a minha concentração.

levanto e bato a porta.


sento novamente na cadeira giratória

olho para o texto, olho para o teto

buscando sentido mas parece

que rodopiei junto com a máquina de lavar

ou com a cadeira, entrando numa espécie de labirintite literária


já totalmente desfocado

abandono o texto

e sou levado para o próximo apito do whatsapp

grupo dos pais das escola

precisa levar duas embalagens

de leite na sexta-feira.

não tomamos leite aqui em casa

reflito sobre isso com preocupação

e depois ignoro essa informação


tá na mesa, seu luis!

já to indo! só 1 minuto!

parece que o tempo escorre entre meus dedos

enquanto nem sei mais o que busco

se é um texto de trabalho, um poema,

ou uma caixa de leite vazia.


a rotina não para de se impor.

na minha frente um prato branco

me servi de arroz, feijão, farofa, salada de tomate e brócolis

fico viajando no brócolis que parece uma mini árvore

enquanto lentamente mergulho nos sabores do almoço


vinte minutos de youtube pós almoço

não faz mal para ninguém, né?

esqueço meu dia na televisão.

depois me dá uma preguiça de voltar para o trabalho



são sete horas da noite

quando cai um copo na sala

tá tudo bem aí? tá sim pai.

não se mexe! você está descalça?



o mundo se insinua,

me obriga a agir 

enquanto o afeto transcende a mera composição.

pauso o trabalho e acolho o imprevisto.


assim, nessa dança entre o poema e a vida,

deslizo entre o caos e a melodia

e as vezes os papéis se invertem.

o caos vira melodia e a melodia vira caos



quinta-feira, 25 de maio de 2023

SOBRETUDO

SOBRETUDO

cobre quase tudo

mas 

as canelas 


ficam de fora


SOBRETUDO

que pretensão

esse nome!

não cobriu

nem

a (cobriu até aqui)

minha

d

o

r


SOBRETUDO

sobre o sobretudo

fiquei com frio

sem saber nada 

sobre tudo


SOBRETUDO

é sobre tudo mesmo?

ou é sobre a sobreposição

do novo tudo?

sobre que tudo estamos falando?



domingo, 5 de março de 2023

o carnaval não existe, existe!

no livro, na poltrona, acomodado dentro do meu silêncio
imerso no bloco do as vezes eu sozinho
o carnaval não existe.

no sofá, na louça, na cama desarrumada,
na taça de vinho abandonada de ontem
o carnaval existe.

"onda onda, olha a onda!"
a coreografia se repete
e a onda estoura
num não carnaval.

meu carnaval começou na cozinha
no recuo da bateria, 
esbarrei na garrafa, no momento em que o coador passava o café
o carro alegórico despencou
se espalhando por toda avenida

o café explodiu no ar como purpurina 
avançou pela pia, 
escorreu pelas gavetas, 
penetrando em suas entranhas, 
pingando por dentro
sujando talheres, panos de prato.
respingos na parede, no fogão,
logo mais abaixo se encontra deitada a garrafa térmica
envolta numa poça arenosa de café.


os socorristas trabalharam rapidamente
chinelo, papel toalha, vassoura, pá, detergente
a garrafa térmica infelizmente não resistiu

o café  com leite no copo de vidro ficou por conta da padaria

entre os corredores do mercado, não havia a ala das garrafas térmicas
voltei para a casa de mãos abanando

já no meu apartamento, vesti a fantasia de um cara feliz
e fui para o bloco

do lado da bateria acompanhei o álcool emergindo sobre o meu corpo
a essa altura minha alegria não conseguia manter a discrição
de repente, não me pergunte como, estava numa coreografia com um senhor que usava regata e uma cartola.

e no meio da cabeleira do zezé, me deu vontade de fazer xixi,
abandono o bloco, atravesso pessoas com pressa
odeio pessoas agora!  cadê o banheiro? não era para esse lado?  onde era mesmo?
achei! odeio banheiro químico!
além do cheiro ruim, sempre rola um coco alheio boiando, porra por que o folião de antes não podia dar uma descarga? esses mictórios me dão fobia, confesso que nem tranco a porta, vai que depois o trinco quebra e eu fico ali até o fim do carnaval.

quanto ta a cerveja? doze reais. eu quero uma!  volto para o bloco e logo começou a chover e ninguém se incomodou, pelo o contrário, era o ingrediente perfeito que faltava para aliviar o calor. eu que já estava com uns dois botões da camisa aberta, todo suado, com confete no cabelo e na roupa, recebi a chuva com passos de danças desconexos de uma alegria bêbada fora de controle.


















quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

CariocaTupiniquim

sinal vermelho

desço o vidro

brisa leve

árvores cimentadas

meio fio

linha de esgoto

pombos


sinal verde

praça

passa

buzinas

ficam 

para 

trás

"em duzentos metros mantenha a direita"

não faz sentido!

discuto com o waze

ele tinha razão

"recalculando rota"


trânsito

infinitas motos

passam

pelo meu retrovisor

subo o vidro

ar condicionado

barulho isolado

tudo acalma.


na calçada

uma velha

c

a

i

quando penso em sair para ajudar

três pessoas fazem isso

a princípio, tudo bem só um tombo

ela segue para a fila do banco


da janela vejo a causa do engarrafamento

escola

crianças e suas mochilas

carrocinha de pipoca

fumaça

campainha

pais estressados na fila

atrasados para deixar seus filhos

atrasados para buscar seus filhos

fila única

buzina

gritos

sustos

risadas

som distorcido do microfone

caos

sorvete!

sinal verde


o trânsito flui

abro a janela

passo a primeira, segunda, terceira

freio

coloco a seta para direita

um infeliz não deixa eu passar

mudo de faixa

sinal vermelho


sinal verde

dobro uma esquina

depois outra

sigo na reta

tranquilo

acelero

frank sinatra canta

"fly me to the moon

let me play a mong the stars

let me see what spring is like...."

e eu dirigindo no mundo da lua

até que, ah meu deus!

freia! freia carro!

ah não!

quebra molas

freio em cima da hora

mas não impeço

o carro de balançar.


dois minutos depois

ouço a frase mais esperada:

"você chegou ao seu destino"


mas cadê a vaga?

passeio pela rua

em marcha lenta

mas com olhar atento.

finalmente acho!

baliza! ai meu deus! sou péssimo!

vai para frente, gira o volante, vai para trás, desvira, deu meio errado, meio certo,  vou investir.

para frente, viro o volante, para trás, desviro para o outro lado, para frente, para trás, desisto e começo tudo de novo

enquanto me enrolo no processo, sempre surge umas duas pessoas

são os famosos críticos de vagas, eles não dirigem mas adoram dar risada

das presepadas de barbeiros como eu.

finalmente consigo

não tenho zona azul

loja de construção, padaria, armazém, ninguém tem!

avisto uma banca! um zona azul por favor!

acabou senhor. 

eu pergunto, tá, mas aonde tem?

tenta na banca das alamedas dos maracatins

que?

tenta na alameda dos maracatins

onde fica isso?

esquina com a jurema que fica depois da alameda dos jurucê

que papo de índio é esse meu camarada? eu sou carioca.

então, deixa eu te situar, você está em moema, meu amigo

aqui todas as ruas tem nome de índios.

mas não eram pássaros?


sigo a recomendação do meu mestre dos magos

encontro a banca e consigo encontrar o zona azul

mas

onde foi mesmo que eu parei?

senso de direção inexistente

me embrenho nas ruas com nome comunidades indígenas

anhambiquaras, aratãs, tupiniquins, guaramomis....

ACHEI! ANAPURUS!


coloco o zona azul

e sigo até a minha tribo, ops, quer dizer meu destino....



quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Poesia Concreta a essa Altura?! Faça-me o favor!

vendo 
tempo
passar

não 
vendo 
temp
o
p
a
s
s
a
r

vendo     o      t e m p o           n ã   o                  p   a     s       s     a           r






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