terça-feira, 15 de novembro de 2022

Travessia

é de letra em letra

de sílaba em sílaba

uma palavra de cada vez

com seu devido espaço


o caminho é cheio de obstáculos

tropeçamos em vírgulas

atravessamos pontos

caímos literalmente.


na incerteza de uma interrogação

refletimos sobre o que não sabemos

atravessamos mais pontos e mais vírgulas

afim de responder as interrogações

e nessa travessia

muitas surpresas

explodem em exclamações:

de palavrões a gentilezas

risadas até gritos de gol

de pausas para uma sobremesa 

ou de um olhar estrangeiro

sobre a chuva caindo


a bagagem acumula em aspas,

parênteses, colchetes, 

colchetes não! não se usa mais

colchetes é do tempo da matemática

da quinta série, quando os exercícios

eram expressões.


bonito o nome mas na prática

expressões não tem expressões

talvez só as dos alunos 

ao se depararem com elas


se as expressões são as reações

as equações são o psiquê cognitivo

as questões complexas, ou o cerne delas

ou seja, problemas, ou não.


com perdão dos trocadilhos matemáticos

mas esse poema não é sobre 1+1=2

talvez sobre a divisão, ou a fração do tempo

de um fragmento que nos conduz a um corte de verdade absoluta

ou uma raiz quadrada proveniente

de uma potência de um super momento


no fim das contas, 

somos a multiplicação fatorial das nossas vivências

a composição complexa cheia de adições, subtrações,

divisões, multiplicações, interseções, uniões....


... esses três pontinhos...

são na verdade um transporte de momentos vividos

separados por vagões

de um trem que aumenta 

de tamanho enquanto se movimenta


e entre esses três pontinhos

nos conhecemos

tenho esses momentos

guardados dentro de mim

e protegidos com parênteses,

colchetes e sete chaves.


o vento bate e vira

a página do livro

mudando completamente

de assunto

as vezes chegamos assim

no meio de algo

que já estava acontecendo

o famoso pegou o bonde andando


bem naquela mordida

a salsicha escorregou

mergulhando com tudo

na camiseta branca

eu tinha acabado de chegar


onde é o banheiro?

pia, sabonete

e um borrão de água cresce

no meio da blusa

as vezes limpar parece sujar mais


três pontinhos depois

elipse  necessária

para a mancha sumir

taça de vinho branco na mão

conversa no piloto automático

sorriso engatado


viver é lidar com o processo

é escrever uma linha por dia

é caminhar entre sentimentos

e saber que tudo passa


afinal, o que foi visto

nunca será igual

o cotidiano nos engana direitinho

quando se disfarça de igual


justamente nesse cotidiano

pilotamos trabalhos, filhos

ralo entupido do chuveiro

unhas, preciso cortá-las.

como estão as unhas da juju?

acabou o sabonete, pasta de dentes, pilhas!

o controle remoto não funciona

qual é mesmo o AAA da pilha?

no final do dia, aperto a descarga

e elimino tudo de pior de mim


do mc donalds do domingo

até as crenças mais absurdas

que um homem solitário

é capaz de produzir.


um banho é um renascimento

água quente despejada sobre minha cabeça

numa imersão de relaxamento

pingos, gostas, passeiam

pelo meu corpo

e revitalizam

meu ser novo em folha


ainda enrolado na toalha

me jogo na cama

adormeço


não se engane

amanhã tudo vai

ser diferente.





terça-feira, 8 de novembro de 2022

Um ano

há um ano
você  se foi
e eu também

abri gavetas,
armários
e achei
saudades

ainda te procurando
vaguei por ruas 
atravessei avenidas
dobrei mil esquinas
e nada!

te procurei na praia
e naquela imensidão
de céu
não te achei
inacreditável

então, esperei
a maré chegar
até mim

o amor
escorria
pelas dedos
e se misturava
a água

depois disso
literalmente
enlouqueci
olhei fixamente
para o mar
e falei:
leve esse amor
por todos os oceanos

se for preciso,
deixe-o evaporar 
até as nuvens
faça ele preencher
TUDO
até chegar
nela